Validade vencida
cadê a tal da musa
o quê
ninguém mais usa
como não me avisaram
então estou anacrônico
caramba
isso explica talvez
esse meu mal-estar crônico
num canto escuro da sala
ensaiando essa dança ridícula
fora do descompasso geral
eu minúsculo poeta
no papel de palhaço pateta
fazendo careta pro público
tropico em verso trocado
e saio de pé quebrado
também pudera
com essas asas de barro
não vou conseguir jamais
seguir o voo supersônico
desse progresso catatônico
em que a gente foi se meter
sem nem saber bem por que
eu aqui feito um bocó
na procura da verdade
ingenuidade pura só
mais uma de minhas tantas bobagens
na verdade acabei de aprender
que verdade é a vontade
de quem tem o poder
de dizer o que é a verdade
isso posto
a contragosto
deixo por ora
a metafísica de fora
e apenas
aspiro a uma aspirina
talvez assim
minha cabeça melhore